The Beatles: Get Back | Crítica

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Falar de The Beatles como um assunto em alta no momento é uma oportunidade que surge muito casualmente de tempo em tempo. Não é por menos — afinal, a banda acabou há meio século. Todavia, falar do grupo de Liverpool para aqueles que tiveram o prestígio de se aprofundar um pouco mais na história da banda é sempre um prazer.

Hoje, falaremos de Get Back, o novo documentário episódico do grupo de John, Paul, George e Ringo que chegou ao Disney+ na última quinta-feira (26). 

Primeiro, acho importante contextualizar a história desse material e do que ele se trata por si só: aqui, nada mais vemos do que o processo criativo dos Beatles na criação de seu próximo (e último) álbum, “Let It Be”, lançado em 1970. Como o próprio documentário relata, esse é um material de 1969, 1 ano antes do fim da banda. A ideia de Paul McCartney era que o conteúdo ali gravado virasse filme (embora como o próprio documentário relata, eles cogitaram especial de TV, um grande concerto e até um livro lançado em conjunto com um material audiovisual), como de fato ocorreu na década de 70. Em um tom muito mais indigesto, o material mostrava a inflamação por trás da ferida que foi a separação da banda.

Todavia, o material condensava em 81 minutos mais de 55 horas de filme gravados em ensaio, além do material em áudio. Fora das telonas, o filme original eventualmente chegou ao home video, VHS na época. O campo de especulações de um relançamento desses ensaios passou pelo DVD, blu-ray e parou no streaming, onde Get Back chegou exclusivamente ao Disney+.

A escolha de Peter Jackson na direção veio a calhar. Beatlemaníaco, o diretor de Senhor dos Anéis possui o espírito preservista necessário para tratar um material como esse. E agora falando mais do seu lado diretor: a mensagem foi passada com êxito. Vemos os Beatles em fim de carreira enquanto grupo de um jeito indescritível da mesma forma há décadas atrás, principalmente com o que se sabia do clima do grupo em seu fim. 

Nessas quase 8 horas entre esboços de grandes sucessos, diálogos banais e performances de cair o queixo, relembramos o porquê John Lennon, Ringo Starr, Paul McCartney e George Harrison ainda são tão lembrados falando de música. Ver o processo de criação de Let It Be, Two of Us, Don’t Let Me Down, Across The Universe, I Me Mine, All The Things Must Pass e tantas outras canções é uma verdadeira carta de amor do diretor aos beatlemaníacos.

Mas dividindo a experiência em partes: mesmo sendo a mais rica entre as 3 partes musicalmente falando, o clima da primeira parte soou massante. Não pela direção, mas pelo clima mesmo. O peso é angustiante, tudo parece acontecer pela livre e espontânea pressão que é o show business, afetando principalmente Paul McCartney, que vira uma adaptação do seu chefe cobrando o prazo daquele projeto nesse documentário. Os pequenos momentos salvam, certamente, mas tudo ali acontece daquela maneira pela pressão de unir 4 artistas que já possuíam linguagens e assinaturas completamente diferentes.

A saída de George Harrison ali não foi atoa. Mas depois de bons jantares e almoços, eles estão de volta! E já no segundo episódio, temos um ritmo completamente diferente de criação e fluidez. Muito se deve principalmente ao músico Billy Preston, presente quando os ensaios mudam para os estúdios da Apple. O amigo de Harrison não só adiciona em quantidade, mas dá outra cara aos Beatles de Get Back. 

É de pouco antes da metade do segundo episódio para frente que você vê os Beatles como normalmente imaginaria (não pensando em 1969, mas na banda de maneira geral). Mas, obviamente, o destaque fica para o final. Ali, vemos a construção do clássico show no terraço da Apple, em uma rua comercial de Londres.

Cantando Don’t Let Me Down, Get Back, I’ve Got a Feeling, One After 909 e Dig A Pony, aqui vemos a banda se apresentar ao público pela primeira vez ao público em alguns anos. Do ceticismo inicial de George Harrison até a animação de Ringo com a plateia logo abaixo, ver todo esse material em uma qualidade nunca antes vista (e de diversos pontos de vista, o que deixa tudo mais rico) é sensacional.

Leia também: Os Beatles cantaram mesmo ‘Asa Branca’?

Ver o termômetro do público que ia desde o “é bom ter algo de graça nesse país” até o “atrapalharam meu cochilo” também é pra lá de interessante, sem contar a insatisfação das autoridades após as denúncias do comércio local. Uma performance memorável que fecha Get Back da melhor maneira possível.

No fim, o grupo afoga um pouco mais o ego da dobradinha Lennon/McCartney, também dando mais espaço para Harrison. E claro, o documentário mostra mais uma vez como aquele ódio desenfreado de parte dos fãs dos Beatles com a Yoko Ono não passava de uma birra machista (e um tanto racista). A esposa de Lennon era uma versão sessentista de Thais Braz no aspecto planta. 

Aliás, aquele estúdio era uma enorme bagunça, não existia muito bem um limite sobre quem entrava ou saia. Ao menos rendeu bons momentos, como quando a filha de Linda McCartney participa dos ensaios. No fim, Get Back são sobre esses pequenos momentos que compõem a grande banda que os Beatles foram, são e serão. 

Beatles

Por fim, meus parabéns para Peter Jackson pelo trabalho de remasterização. Transformar um filme de 16mm de 1969 em algo assistível nos dias de hoje é uma tarefa difícil de cumprir. 

Assista no seu tempo e conforto, mas não perca essa oportunidade caso tenha um mínimo interesse pela banda, The Beatles: Get Back tem um valor que nenhum filme biográfico jamais terá. Não tenta resumir vidas em mais ou menos 120 minutos, mas sim resumir um punhado de dias do processo criativo dos Beatles em um material de quase 8 horas. 

Mas e você, é fã dos Beatles, já assistiu Get Back? Comente!

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