Depois de tantas especulações, tantos rumores, aqui estamos… eu já assisti “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” e hoje venho compartilhar a minha crítica (com spoilers) desse longa que celebra com tanta grandeza as duas décadas de Homem-Aranha nos cinemas.
Mas dessa vez, diferente dos outros alertas em que eu aviso sobre spoiler como um grande “se não assistiu, leia por sua conta e risco”, aqui destaco que vale a pena ver o filme primeiro. Não importa o dia, nem a sessão, mas assista antes de saber como as coisas aconteceram no novo longa multiversal da Marvel Studios.
Dito isso, vamos lá!
“Quando o Mystério revelou minha identidade, minha vida virou de cabeça pra baixo”
O filme começa seguindo literalmente de onde Longe de Casa parou, com uma sequência para lá de MCU em grande parte do primeiro ato, como já era esperado. Ver como os personagens ali presentes lidam com a exposição da identidade de Parker é uma premissa que permanece desde muito antes do filme ser essa grande salada de multiverso, mas acaba sendo um momento menos lembrado ao sair da sessão. Vale o elogio para a química de Tom Holland e Zendaya, funciona muito bem em tela.
E claro, caso você seja fã do Demônio de Hell’s Kitchen. Bem… Matt Murdock está no MCU! E bem como relatou Kevin Feige, se existe Demolidor no MCU, ele seria sem sombra de dúvidas interpretado por Charlie Cox. É uma aparição breve e curta, mas muito bem inserida e conveniente ao roteiro do longa, sensacional!
Ainda no primeiro ato, vendo a grande repercussão sobre a revelação de sua identidade (que gera consequências bem levianas se comparadas aos acontecimentos mais semelhantes nos quadrinhos), Parker decide apelar aos feitos do Mago Supremo da Marvel: o Doutor Estranho.
Com o auxílio de Strange, ele visa reverter a descoberta de sua identidade por parte do mundo. O feitiço dá errado (por uma conveniência enorme do roteiro, mais uma vez) e o multiverso se abre. E agora vamos aos vilões! A sequência da ponte com o Doutor Octopus de Alfred Molina é o primeiro salto de nostalgia que o filme propicia.
Só de ver novamente o vilão de um dos longas mais sensíveis que o herói já recebeu é um feito inimaginável, como vários da Sony Pictures com esse filme. Ver uma cabeça aracnídea esmagada por aqueles tentáculos mais uma vez foi impagável (além do chip inibidor ser destruído e Octavius acaba por se redimir novamente).
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Sem Volta Para Casa?
Mas Octopus não é o único: o Duende Verde de Norman Osborn também chega ao universo do Aranha de Holland. Mas a sequência de vilões multiversais, tal qual com outros personagens, consiste muito mais em diálogos do que em ação de fato. Ver os personagens interagindo (e por consequência comentando e referenciando os acontecimentos de outros filmes do teioso) é um deleite para qualquer fã do Homem-Aranha.
Depois, o filme explica como esses personagens surgiram naquele momento, sendo a solução mais bem pensada se tratando de roteiro e multiverso desde então: os vilões surgem no mesmo momento onde outras identidades de outros Peter Parker foram reveladas. Sabendo que o destino de muitos deles envolve a morte, nenhum apresenta disposição para voltar ao seu próprio universo com exceção de Flint Marko.
E é assim que o Aranha de Holland tenta redimir os personagens de um jeito bastante admirável, embora o ideal seja seguir o flow ao invés de questionar uma confiança repentina com seres de outro universo por uma conversa com a Tia May. Mas Strange sabe das consequências. Não só sabe, mas tenta fazer Parker entender. E novamente, o filme pede uma compreensão com o traço fora do personagem e faz com que Strange fique preso em uma realidade onde ele tem domínio simplesmente para que a história consiga continuar. Duvidoso? Sim, mas o filme pede essa compreensão em contexto aos feitos realizados.
Livre das amarras de Estranho, Parker tenta dar a chance de redenção aos 5 vilões do multiverso, tentando descobrir a cura para cada um deles. Meu destaque fica por conta do Homem-Areia de Thomas Haden Church, que na primeira sequência se mostra um grande aliado do Aranha de Holland.
E ali acontece a primeira grande batalha entre o Duende Verde de Willem Dafoe e o Aranha do MCU; ali também é o palco da morte de May Parker de Marisa Tomei, que tem um enorme impacto para o Aranha do MCU, sendo basicamente o seu equivalente ao Tio Ben (incluindo o peso de “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades“). Uma cicatriz enorme que o personagem deve carregar daqui pra frente, por responsabilidade do Duende Verde.
E agora sim; dado o luto de Parker, o momento tão esperado pelos fãs chega: finalmente vemos em tela ninguém menos que Tobey Maguire e Andrew Garfield, reprisando suas versões do aracnídeo após um hiato de 14 e 7 anos, respectivamente. Se você tinha qualquer receio em como essas versões seriam apresentadas aqui, não se preocupe: é perfeito.
Ali existe uma química como se ambos se conhecessem há muito tempo, mas não apenas por compartilharem a mesma identidade, por serem o mesmo herói, vai além; ambos, cada um de sua própria forma, experimentou o luto com alguém que amava, mais de uma vez.
Com o Peter Parker de Tobey Maguire, Ben Parker e Harry Osborn, com o de Andrew Garfield, Gwen Stacy e Ben Parker. Já com o de Holland, Tony Stark e May Parker. A química dos três é algo simplesmente fora de série, o quanto eles entendem os próprios dilemas e como compartilham e comentam suas semelhanças (e principalmente as suas diferenças) é de emocionar qualquer fã.
Ainda falando da desejada reunião, acho importante destacar o perfil dos 3 e o cuidado com cada versão. Sam Raimi e Marc Webb certamente foram consultados sobre como continuariam suas histórias, é nítido o quão pavimentado o caminho dessas versões foram depois dos filmes que vimos anteriormente. A solução de trazer os 2 na contemporaneidade ao invés do que fizeram com os vilões foi uma jogada e tanto do roteiro, que permitiu trazer novas visões dos Aranhas que nos apaixonamos no passado.
Temos um Peter Parker mais sábio como no caso de Tobey Maguire e um que tenta seguir em frente como o de Andrew Garfield. Inclusive, ver o diálogo de Garfield e Maguire quando a versão mais velha do teioso aconselha o Parker de ‘The Amazing Spider-Man’ em continuar tentando balancear sua vida pessoal e o alter ego mascarado foi um momento muito tocante. Mesmo tendo pessoalmente os piores filmes, o Homem-Aranha de Andrew Garfield esbanja carisma aqui, sendo o mais afetuoso entre os três.
E tudo isso, claro, serve para os heróis se prepararem para a batalha final: nela, encontramos o Electro de Jamie Foxx, o Duende Verde em um visual repaginado, o Doutor Octopus (redimido), o Lagarto e o Homem-Areia, que se encontra ali sem propósito nenhum e até descaracteriza o personagem até certo ponto (mas de um jeito ruim, diferente do personagem de Foxx).
A luta pela cura no caso de Connors foi um feito e tanto, além da batalha com Flint Marko, o reencontro de Electro e o seu Homem-Aranha (com um diálogo que cita até Miles Morales indiretamente) e o melhor de todos, o reencontro do Homem-Aranha de Tobey Maguire com o ídolo Otto Octavius, que agora vê o brilhante mas preguiçoso Peter Parker já adulto, fan service para fã nenhum botar defeito.
Em uma angústia muito justificada, o Homem-Aranha de Tom Holland quase mata o Duende Verde, assim como diziam os rumores. Porém, ver o Homem-Aranha de Tobey Maguire se colocando no lugar de Tom (e lembrando dos acontecimentos de ‘Homem-Aranha 3’, quando fez o mesmo com Marko) e fazendo-o perceber o erro que pode estar cometendo é um dos vários elementos narrativos do filme que adicionam mais uma camada de peso para quem viu os filmes anteriores, mas é uma cena tocante por si só. Sem contar, claro, a emocionante redenção do personagem de Garfield ao salvar MJ.
Diferente do título do filme, todo mundo tem volta para casa (embora não tenha ficado claro se essas casas serão vistas novamente), incluindo os Homens-Aranha. E aqui, o personagem de Tom Holland toma uma importante decisão: ser esquecido não só da história, mas também daqueles que o amam, incluindo Ned e MJ.
Sem namorada, família ou amigos, vemos um Peter Parker que sai muito mais maduro desse filme em relação ao seu começo. E falando em começos, o herói tem o seu mais uma vez; o filme pavimenta um futuro que muitos queriam para esse Peter Parker: sem Tony Stark, sem tecnologias pitorescas, apenas um Homem-Aranha cheio de cicatrizes pronto para começar uma nova vida. E em um novo apartamento (que se assemelha muito ao da versão de Tobey Maguire, diga-se de passagem), o Aranha de Tom Holland tem um recomeço, que deve ser melhor explorado em seu próximo filme. Teve até traje costurado à mão, veja você!
Enquanto os créditos rolavam, eu não sabia descrever o que havia acabado de ver. Ainda muito anestesiado pra refletir as mínimas problemáticas completamente apagadas pela linda homenagem que esse filme é ao Homem-Aranha e sua trajetória nos cinemas de maneira geral, o fato da sequência final que fala muito mais sobre o futuro dessa versão do teioso ter me empolgado foi uma grande (e feliz surpresa) que Sem Volta Para Casa me proporcionou, uma de várias, da atuação de Alfred Molina e Willem Dafoe até a sutileza e o cuidado com as referências.
Sobre as cenas pós-créditos, conversamos mais tarde. Mas fato é: muito além do fan-service, o novo longa do Homem-Aranha integra a nostalgia em uma inserção precisa sobre como o novo Aranha deve lidar com seus poderes (e suas responsabilidades). Celebra o passado muito bem, sem parecer deslocado e, depois de iniciado, forçado em química e relação dos Aranhas.
Conclusão: O longa atendeu a altíssima expectativa dos fãs, é um feito inimaginável e provavelmente difícil de reproduzir. Uma emocionante celebração do legado do teioso nas telonas, Sem Volta Para Casa traz o passado de forma inteligente, pavimentando o caminho para o futuro do Homem-Aranha nos cinemas. Sendo um filme em forma de evento, é impossível ser fã do cabeça de teia sem se empolgar com todo esse material. Todas as problemáticas são completamente apagadas por uma execução que funciona inclusive para quem conheceu o personagem no Universo da Marvel.
Nota: 9/10
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