Doutor Estranho no Multiverso da Loucura | Crítica

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E aqui estamos… na metade da Fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel Studios, Stephen Strange toma as rédeas do jogo e é o epicentro dos acontecimentos do MCU desde Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, mas seu protagonismo se dá mesmo na sequência de seu filme solo lançado em 2016, com Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, que chega hoje (05) aos cinemas.

Desde a sua concepção até o lançamento, o projeto enfrentou “divergências criativas” com seu primeiro diretor, Scott Derrickson, mas foi assumido posteriormente por ninguém menos que Sam Raimi.

Se antes da entrada do pai de Uma Noite Alucinante, o longa já seguia para uma abordagem de terror, Raimi potencializa isso ao máximo, o que é nítido para qualquer um que tem a oportunidade de assistir ao longa. Mas sem entrar em muitos detalhes de antemão, vamos à crítica!

O texto abaixo contém spoilers.

Antecipando os vários elogios que seriam atribuídos ao filme, vamos aos pontos mais incômodos, que mais pesam para o lado do roteiro e da própria Marvel Studios do que para o elenco ou direção.

De nada me espanta decisões criativas envolvendo mortes, como no caso do Professor Xavier ou de Reed Richards, mas as incongruências com a continuidade narrativa do MCU (em especial Wanda Maximoff) evidentemente causam um incômodo no espectador mais assíduo da Marvel Studios do cinema e televisão. E considerando o quanto se faz necessária a maratona de WandaVision, me parece uma bola fora do roteiro trazer uma premissa sem pé nem cabeça para a antagonista.

Quando Wanda se dá conta que existe uma versão dela já cuidando dos filhos no multiverso que pretende se apossar, ainda no início do filme, nada acontece. Todavia, esse é o motivo que conclui sua jornada no emblemático sacrifício cometido pela personagem na reta final de Multiverso da Loucura. 

E sem dúvida alguma, a necessidade de se atentar ao que ocorre com a Marvel Studios na televisão é um problema, em especial quando se tem a abordagem de trazer diretores renomados para contribuírem ao seu Universo Cinematográfico. É bastante possível que o espectador médio de Sam Raimi, que no máximo adentrou em sua trilogia do Homem-Aranha, fique perdido caso decida cair direto no longa do mago, sem ter assistido WandaVision.

E quando uma problemática como essa é gerada sobre a antagonista (ou vilã, se preferir) do filme, a sua base de sustentação se fragiliza em uma premissa substancial do roteiro. Há alguns pontos menores que podem ser levantados, como o excesso de didatização presente nos diálogos, mas são completamente compreensíveis, porque embora a Marvel Studios se apoie em seus projetos televisivos, o limite do obrigatório vai até o live-action (e sim, eu estou falando de What If..?).

Certamente, o peso de orquestrar o jogo do MCU recai sobre os ombros de Sam Raimi, mas o diretor felizmente ignora o fato e, com o roteiro que tem, dá um show na forma com que joga as cartas. No geral, pode ser uma metáfora para o filme como um todo: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é quando vemos uma excelente jogada de alguém com um baralho bastante precário. Se a continuidade com o MCU pode prejudicar (afinal, dava pra achar motivação e pessoa melhor, né?), Sam Raimi dá um show ao incorporar a extensa lista de elementos clássicos de sua cinematografia.

Da posse de cadáveres aos ângulos de câmera inesperados, ou até da abundância desnecessária de portas que abrem e fecham, o longa traz Sam Raimi do início ao fim, especialmente no terceiro ato. Multiverso da Loucura traz elementos não só da franquia Evil Dead, mas também do último grande longa de terror creditado ao diretor, Arraste-Me para o Inferno, de 2009.

Além disso, temos uma grande jornada que, predominantemente, pincela tanto Stephen Strange quanto Wanda Maximoff, o filme é em grande parte dos dois.

Já na primeira sequência do longa, no casamento de Christine Palmer, Strange se destaca por materializar toda a construção da personalidade que os fãs tanto amaram desde a sua estreia no MCU com seu filme solo de 2016. Dali em diante, em diversas cenas de ação, constata-se que suas versões alternativas são a grande ameaça do tal cálculo do multiverso, e é aí que ele deve provar seu valor diante de vários viajantes universais, incluindo sua companheira parcial de jornada, America Chavez.

Diga-se de passagem, a canadense Xochitl Gomez dá um show de atuação na sua estreia na Casa das Ideias, sendo uma coadjuvante de grande destaque nessa trama multiversal.

A jornada de transformar Wanda em vilã como Feiticeira Escarlate e, por consequência, torná-la uma ameaça à estreante é audaciosa, mas mal executada. Com um roteiro pobre, Sam Raimi se esforça na execução deste antagonismo, mas nem ele consegue salvar uma premissa tão incongruente com o Universo Marvel. O que se salva em termos de narrativa, sem dúvida alguma, é a jornada de Stephen Strange, que sai engrandecido de Multiverso da Loucura, tanto pelas cenas brilhantemente dirigidas quanto pelo roteiro que o torna o herói que merece um filme solo com tamanha responsabilidade.

Agora vamos às aparições especiais: eu não sei onde Kevin Feige quer chegar com elas, e se elas bastam para justificar a tal loucura do multiverso, mas a previsibilidade em nada tirou a minha alegria ao ver o retorno de Patrick Stewart como Professor Xavier, ou o Reed Richards pela primeira vez interpretado por John Krasinski. Tudo ali é mágico, ainda que parta da expectativa perigosa de sempre querer mais (lembram do Homem de Ferro do Tom Cruise? Que fase!). E fica a dúvida quanto ao personagem de Patrick Stewart: se trata da versão vista nos filmes da Fox ou o sample confirma os rumores de que estamos vendo o Xavier da série animada dos anos 90?

Ainda que a premissa de Wanda possa ser medíocre e o seu desenvolvimento se alinhe com isso, a condução da trama e as viagens multiversais são completamente bem dosadas no segundo ato, mesmo que a introdução soe apressada. Gostaria muito de ver o corte com 40 minutos adicionais, que muitos classificaram como confuso. As cenas de ação são satisfatórias, os visuais são de um grau de audaciosidade que eu espero de Sam Raimi, ainda que o orçamento dos efeitos especiais demonstre seus limites de vez em quando.

Admito que ignorei completamente a importância da cena pós-crédito e do final, pois o que me empolgou de verdade foi a segunda cena pós-crédito, porém podemos discutir a importância da primeira cena pós-crédito para o MCU no futuro.

Conclusão: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é uma aventura que te faz sair satisfeito do cinema. A incongruência narrativa básica da antagonista gera um incômodo na presença de uma versão que insiste em um erro pelo roteiro, mas a direção profundamente autoral de Sam Raimi sobressai a fórmula tão bem estabelecida do MCU e entrega uma coisa que Kevin Feige deveria entregar há algum tempo: um filme único. As participações especiais não são o grande lance, sem sombra de dúvidas, mas sim a condução insana da viagem pelo multiverso aliada à impecável jornada narrativa de Stephen Strange. Poderia se extrair muito mais do longa com uma ameaça melhor estabelecida, mas é, em termos de execução de direção, muito consistente.

Nota: 7,5/10

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