Revivals, continuações, reboots, remakes e spin-offs de sitcoms são um dilema e tanto. Algumas se apoiam na volta do elenco original, muitas vezes colocando as antigas crianças no papel dos adultos e pais da nova geração, é uma constante nessa onda de indústria da nostalgia. E então temos ‘How I Met Your Father’.
Você pode definir como um spin-off, mas acho mais apropriado classificar a nova sitcom como uma sequência indireta de ‘How I Met Your Mother’. Porém, a Hulu tinha um grande dilema pela frente: como retrabalhar e modernizar a série de 2005?
Seja você um amante de Marshall, Lily, Barney, Robin e Ted, é inegável que a série original com leves traduções não funcionaria hoje em dia. Enquanto o elenco principal esbanja carisma, as piadas são, no maior dos eufemismos, inapropriadas para 2022. O elenco é composto completamente de uma bolha de gente branca, não se alinha com o mínimo aceitável na contemporaneidade.
Porém, devo dar o braço a torcer: na parte de modernizar as principais narrativas, a série faz um bom trabalho. Sabe, Tinder, esquecer pertences em um Uber, aquilo de mais presente na vida de qualquer pessoa solteira na atualidade (em especial se for mais velho que este que vos escreve). Porém, se dou o braço a torcer sobre uma repaginação necessária, tenho que admitir que a série falha em alguns pontos fundamentais para ser o puro suco do entretenimento tal qual a original.
Com todas as críticas devidamente pontuadas, devo reiterar que a dinâmica de ‘How I Met Your Mother’ é fantástica. Não, não acho que 2 episódios sejam o suficiente para comparar carisma, apego e muito menos qualidade, mas revendo o piloto da série original, é nítido como as coisas fluem melhor.
E antes que surja o comentário pedindo pra evitar comparações, acho que o fato da série se ambientar no mesmo universo (sem muitos detalhes visando evitar spoilers) e partir de uma mesma proposta é o suficiente para isso. Inclusive foi natural projetar características do antigo grupo no elenco principal de ‘How I Met Your Father’, mas aos poucos você vai se abrindo e as amarras com a série original saem de cena. Porém, vamos lá: começando por Sophie, a personagem de Hilary Duff, declaro a falta de carisma, que por si só não sustenta o quão piegas a personagem pode ser.
Sim, Ted Mosby também não era lá flor que se cheire, mas não era necessariamente o inimigo da carisma, muito pelo contrário. Mesmo no pior dos cenários, os diálogos e observações sempre me arrancaram boas risadas, o que não foi o caso com Sophie. Corrigível, o apego talvez venha no futuro, mas não bateu tão instantaneamente quanto Mosby, que me pendurou com a fatídica dúvida de quem era a mãe mesmo com um amigo avisando que isso só se revelaria ao fim da oitava temporada.
Falando do restante do elenco principal, meu destaque fica para Valentina e Ellen. A amiga e colega de apartamento de Sophie traz uma dose de sensatez meio Lily e uma complicação em sua vida afetiva meio Robin, mas tudo com uma boa dose de originalidade, já gostei muito! Já falando de Ellen, a falta de tato social (e a responsável pela pouca boa dose de humor desses dois episódios) sustentam suficientemente a minha admiração pela personagem.
Sobre Hannah e Sid, nenhum comentário, porém não posso dizer o mesmo de Jesse. Parecendo ser o equivalente da Robin, o personagem traz muito a insegurança que remete Ted Mosby, embora esteja (felizmente) longe de reencarnar o personagem. Já sobre Charlie, par de Valentina, nenhum comentário pontual. O personagem Ian, no entanto, parece trazer uma boa dose de intriga (e, quem sabe no futuro, ainda mais drama).
Agora falando do roteiro, talvez falte acertar o ponto no humor. Várias piadas da série original envelheceram mal, é verdade, mas não se pode dizer que o timing e a dinâmica não eram apropriados o suficiente para fazer a coisa funcionar. Mas isso não ocorre aqui. Não por “politicamente correto”, como ouvi dizer, mas pela falta de dinâmica mesmo. Nem toda piada da sitcom de 2005 era e é engraçada, mas o ritmo é no ponto.
Porém, falando do lado positivo, o elemento de subversão aparentemente irá permanecer na narrativa, aliado ao mistério sobre quem é o pai. Sem spoilers, mas gostei da decisão de orientação ao espectador sobre por onde seguir a investigação de quem diabos é o pai, sendo bem mais pragmática que ‘How I Met Your Mother’.
Quando How I Met Your Father chega ao Brasil?
Segundo a conta oficial da série no Twitter, o lançamento de ‘How I Met Your Father’ aqui no Brasil deve ocorrer por meio do Star+ no dia 9 de março. Até lá, não é possível assistir a série por meios oficiais no Brasil (mas bem, você sempre tem o VPN, ou até um tapa olho…).
Conclusão: Aos trancos e barrancos, ‘How I Met Your Father’ traz potencial. Falta dinamismo, faltam motivos para comprar muitas das ideias do roteiro, falta um bom repertório humorístico, mas talvez se desenvolva melhor ao longo da temporada. Reitero os elogios quanto aos traços de maior diversidade, além do toque de originalidade em alguns aspectos, o que falta em muitas franquias de sitcom que retornam. A série referencia sua grande inspiração, é claro, mas sem se sustentar exclusivamente sobre a nostalgia, pode ser assistida de forma autônoma.
Nota: 6/10
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