Videogames sempre foram um tipo de mídia conturbada falando em precificação, seja Nintendo, PlayStation, Xbox ou PC. Claro, cinemas ou televisão podem não ser o tipo mais acessível possível, mas é inegável como essas mídias se tornaram mais acessíveis nos últimos 20 ou 30 anos no Brasil.
O debate sobre preços na grande imprensa que aborda videogames é de fato elitizado, tão quanto abordar tecnologia. Isso não é atribuição de culpa dessa imprensa, porque reverter esse cenário não é algo que está na mão dela. Mas fato é: diferente de um cinema, debater consumo de videogame com brasileiro médio não é mais debater o lançamento mais recente de games, pelo menos não com os grandes lançamentos custando de R$250 à R$350.
Porém, o entusiasta que quiser se manter sem adquirir os games em época de lançamento em um Xbox ou PlayStation se depara com cortes de preços de forma fixa ou promoções mais cedo do que um consumidor de Nintendo, por exemplo. Mas por quê? É sobre isso que iremos falar hoje.
1. Presença da Nintendo no Brasil
Se você é um dos mais de 80 milhões de proprietários de um Nintendo Switch ao redor do mundo, sabe que hoje é relativamente simples comprar um game de Nintendo Switch no Brasil. Seja por cartões-presente nas Lojas Americanas, eShop nativa do console localizada e com preços em real, ou até comprando os códigos na Nuuvem com cupom de desconto. Mas, se você possui o console pelo menos desde o início de 2018, sabe a dificuldade que era comprar um jogo de Switch no Brasil. Se você não tivesse quaisquer meios internacionais de compra, como um cartão de crédito, a situação seria mais complicada.
Um cartão de crédito nacional poderia ser utilizado para no máximo comprar um cartão-presente da eShop (tendo registrado uma conta nos EUA ou qualquer país em que a Nintendo tivesse oficialmente representada, trazendo até maracutaias como colocar um código-postal (CEP) americano na conta. Esse cenário começa a mudar em junho de 2018, com a estreia da Loja Nintendo no Brasil. Agora os games poderiam ser comprados em real e até por boleto bancário, ainda que sendo uma “gambiarra” já que a eShop brasileira não existia. Com a avanço da presença da Nintendo por aqui (seja com a presença de Relações Públicas com a imprensa, ou até uma eShop brasileira localizada já presente no Nintendo Switch, com a venda do console de forma oficial finalmente acontecendo), isso foi facilitado, mas loucuras de pandemia e dólar viabilizaram um preço sugerido de R$300. Você pode me alegar (com razão) que um jogo de PlayStation 5 ou Xbox Series X custa US$70 (no Brasil, RS$350), mas o ponto é: em 3 meses ou 3 anos, você vê quais os valores em cada uma das plataformas? É isso que abordaremos no próximo tópico.
2. Longo prazo
Vamos pegar a geração PS4/Xbox One e comparar 2 games que saíram relativamente na mesma época que um exclusivo Nintendo: Horizon Zero Dawn e The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Horizon Zero Dawn hoje tem o preço fixo de R$79,90, enquanto Breath of the Wild sofreu um reajuste de acordo com o dólar de R$299,00 recentemente. Ambos jogos saíram na mesma semana, ambos foram indicados para jogos do ano. Em fevereiro de 2019, Horizon Zero Dawn chegou a marca de 10 milhões de cópias.
Até 31 de março de 2019, The Legend of Zelda: Breath of the Wild havia atingido 12,77 milhões de cópias vendidas. Não se pode alegar que o alto preço desses jogos se deve ao número de cópias vendidas, dada a proximidade (principalmente entre uma franquia tão consolidada quanto The Legend of Zelda e uma nova propriedade intelectual como Horizon) de tempo e número de cópias vendidas. Acha que peguei um caso isolado? Tudo bem. Vamos comparar 2 games que saíram com 2 meses de intervalo entre um lançamento e outro: God of War e Mario Tennis Aces. Não são comparáveis em proposta de jogo, mas são equiparáveis em precificação.
Enquanto God of War possui um preço fixo de R$79,90 na loja da Sony, foi cedido como benefício aos assinantes da PlayStation Plus que adquriram o PlayStation 5, chegou a custar até R$26, registrando também mais de 10 milhões de cópias vendidas. Mario Tennis Aces? Chegando originalmente por US$60 assim como God of War (R$250,79 na época), o game já foi oferecido de forma completa aos assinantes do Nintendo Switch Online para um teste de 6 dias, mas o preço mais barato oferecido pela Big N até o momento foi de R$194,35. Mario Tennis Aces registrou menos de 1 terço do número de cópias que God of War registrou: 3,05 milhões. Não é uma comparação de apelo do game, são propostas diferentes, mas é definitivamente uma comparação sobre o sistema de precificação de outras empresas (no caso, a Sony) e a Nintendo. Mesmo após anos de um lançamento, com jogos não tendo o mesmo apelo em vendas, a política de precificação da gigante por trás de Super Mario permanece. Mas agora, vamos para a cereja do bolo.
3. Preços em relançamentos
Claro, não poderia deixar de citar os relançamentos, seja no formato de remake ou remasterização. Um paralelo bastante usado e simples de assimilar é a coletânea de jogos 3D do encanador bigodudo, Super Mario 3D All-Stars e a coletânea do marsupial da Activison, Crash Bandicoot N’Sane Trilogy. A trilogia refeita de Crash foi exclusiva em caráter temporário do PlayStation por 1 ano, mas hoje conseguimos encontrá-lo em todas as plataformas atuais. O game, que chegou por US$40 (na época, custando R$150 em seu preço sugerido) originalmente, traz toda a experiência da trilogia lançada no primeiro PlayStation refeita, com novos gráficos, nova jogabilidade, tudo realmente refeito.
Enquanto Super Mario 3D All-Stars, a coletânea de um dos maiores ícones dos games, chegou por US$60, trazendo 3 games em 3D do encanador: Super Mario 64, Super Mario Sunshine e Super Mario Galaxy. Pessoalmente, acho 3 jogos espetaculares, mas falando especificamente do custo/benefício do relançamento, é questionável. Todos os games da coletânea tiveram seu primeiro lançamento oficial por parte da Nintendo em alta resolução, é verdade, mas isso não quer dizer que houve um grande empenho por parte da Nintendo em trazer os títulos remodelados para a atualidade, muito pelo contrário: trata-se de emulação, literalmente, dataminers detalham isso em uma thread no Twitter sobre o assunto.
Claro, você pode questionar o impacto e peso de Mario em comparação ao marsupial Crash. Enquanto Mario 3D-All Stars até janeiro de 2021 havia vendido 8 milhões de cópias, Crash N’Sane Trilogy teve a marca dos 10 milhões divulgada em fevereiro de 2019, quando o game foi lançado ainda em 2017. O apelo em vendas com Super Mario é nítido, mas também é notório a diferença de empenho entre os relançamentos citados. E claro, vale lembrar que Super Mario 3D All-Stars não deve sofrer promoções, já que terá sua disponibilidade comprometida em 15 dias, quando o game deixará de ser vendido em mídia física e na eShop, loja virtual da Nintendo. Você não leu errado: a disponibilidade do game é de caráter limitado. Ou seja: depois do dia 31 de março, não haverá nenhuma forma oficial de adquirir a coletânea.
4. Conclusão
Após todos esses levantamentos, acho que pode-se dizer que em comparação aos rivais, o sistema de precificação da Nintendo com o Switch é pelo menos…diferente. Mas chegamos a pergunta do título “Por quê?” e a resposta é “Nintendo”, sem mais nem menos. Por tendência de mercado, você não pode dizer que alguns games da empresa continuariam custando o preço sugerido da Big N. Entretanto, não há uma explicação lógica se não decisões mercadológicas da empresa e a posição que ela se encontra no mercado hoje. Se até 2017, nos últimos suspiros de Nintendo 3DS e Wii U a Nintendo ainda mantinha o Selects, seu programa de descontos fixos de clássicos aclamados da suas plataformas, a ausência do programa no Switch diz bastante sobre a visão da empresa hoje em relação às políticas de preço praticadas por ela. E com toda certeza esse tipo de decisão pesa no bolso do consumidor final.
Tudo aqui apresentado trata-se de uma opinião, não representando integralmente as visões de todos os membros ou do próprio Drop Cultura.
Leia também: Bethesda se junta ao Xbox: Confira detalhes e games que chegaram ao GamePass!