Recentemente, Os Simpsons foram renovados para mais 2 temporadas, atingindo 34 anos da família americana mais querida da Fox. É inegável a importância dos Simpsons para a TV americana. Tanto pelo rompimento com um formato de sitcom tão popular de “família perfeita” nas emissoras estadunidenses, quanto pela ascensão de sitcoms de propostas semelhantes na mesma época ou no futuro, como Seinfield, Friends, How I Met Your Mother e tantos outros. Talvez essa nova fase dos sitcoms sequer existissem se não fosse por influência da família amarela.
Os Simpsons rompiam com o formato tradicional de humor sobre a família americana. Mas apesar de um marco histórico na década de seu desenvolvimento, a família criada por Matt Groening gerou algumas polêmicas à sua época. Em 1992, em um dos discursos da campanha eleitoral de reeleição do presidente dos EUA, George Bush, o então presidente disse que trabalhava para “tornar a família americana mais como os Waltons e menos como os Simpsons”. A resposta do seriado? uma cena onde a família assistia o discurso, quando Bart diz “nós somos como os Waltons. Estamos rezando para o fim da Grande Depressão também!”.
Trazer celebridades para o seriado também era um formato, digamos…peculiar. Michael Jackson, que esteve presente no episódio que estreava a terceira temporada da série não aparece apenas como alguém famoso vindo sem motivo algum para Springfield. O episódio com a voz original feita pelo Rei do Pop levava Homer ao hospício pela possibilidade dele ser um anarquista após ir ao trabalho vestindo rosa. Lá, conhece um homem (que apesar de não-creditado, teve a voz feita por Jackson) que alega ser o astro do Pop. Homer compra a ideia e telefona Bart alegando que Michael Jackson estaria indo para Springfield, quando é gerado grande expectativa por todos na cidade para simplesmente não ser o verdadeiro Michael Jackson.
Já a participação de Lady Gaga no último episódio da 23° temporada é sobre a cantora indo até Springfield numa tentativa de confortar Lisa, que se encontra melancólica. A participação não oferece nada plausível ou real, a situação deixa de ser um plano de fundo para dar graça aos personagens e se torna a verdadeira graça da série. É isso que acontece com Simpsons há mais ou menos 20 anos, trazendo o nome de “Zombie Simpsons” quando citando a família amarela da 9°-12° temporada para frente.
É difícil demarcar a época exata de ascensão da transição entre a era clássica dos Simpsons e a fase “zumbi”, mas alguns especialistas dizem que o episódio fundamental para que isso ocorresse estreou na nona temporada, mais especificamente o segundo episódio dela. “The Principal and the Pauper” aborda o diretor da Escola Primária de Springfield, Diretor Skinner, sobre seu vigésimo aniversário como diretor.
Mas, no meio do episódio, descobrimos que Skinner é (e na verdade sempre foi) Armin Tamzarian, quando o verdadeiro Skinner aponta que teve sua identidade roubada. Armin alega que achou que Skinner havia morrido durante a Guerra do Vietnã, assumindo assim sua identidade. Tamzarian deixa Springfield, mas é convencido sobre a possibilidade de retornar. Alguns fãs alegam que este episódio simboliza, ainda que de forma tímida na época, o início da “zumbificação” dos Simpsons. O IMDb, a maior base de dados sobre entretenimento audiovisual de toda a internet, aponta o mesmo que fãs mais fervorosos: à época do episódio até a atualidade é um gráfico de profundo declínio na média de críticas sobre os episódios da série. O declínio de forma mais objetiva pode ser alegado como iniciado na oitava temporada, quando houve uma demissão em massa de alguns dos roteiristas da “era de ouro” da maior marca da Fox.
Além de mudar a dinâmica do humor da série, grande parte dos personagens foram se tornando cada vez menos as suas versões clássicas. Homer Simpson, o homem preguiçoso, irresponsável e desleixado mas ainda sim amoroso e bastante ligado à família se torna apenas um sociopata que toma atitudes cada vez mais sem sentido. Bart, todavia, era um garoto desleixado e que criava uma máscara de dar pouca importância a família, se torna um verdadeiro criminoso ao decorrer dos anos. Lisa, questionadora e talvez a mais racional da família até então, vira apenas um estereótipo escrachado de pautas progressistas. E tudo isso é aplicável para todo e qualquer personagem, inclusive os secundários.
Tudo isso não é externalizado pela comunidade entusiasta de Simpsons como uma crítica aos novos roteiristas, até porque é bem possível que o marasmo ou a loucura (como é a “zumbificação” dos Simpsons) tomasse conta dessa propriedade intelectual de peso da Fox ao longo das temporadas, mas sim uma crítica sobre como a manutenção de Simpsons ao decorrer dos anos corrói o legado do que ela já foi no passado. A motivação é pra lá de simples: o lucro da Fox com a franquia como um todo. Aqui estamos falando do merchandising (aquele caderno do Bart Simpson que você vê em uma papelaria, aquela camiseta do Homer que você viu no shopping ou aquele parque da Universal que você visitou antes da pandemia). Um caso relativamente recente e fácil de apontar: o game mobile “The Simpsons: Tapped Out”, desenvolvido pelo estúdio Electronic Arts (também conhecido como EA), teve cerca de 80 milhões de downloads, faturando nada mais, nada menos do que US$200 milhões. O game satiriza constantemente o tanto de microtransações presentes no mesmo. E como dito no início, a sitcom já foi renovada para mais 2 temporadas há poucos dias. Totalizando 34 temporadas planejadas (até o momento), o fim de Simpsons pode já ter acontecido para os fãs há algum tempo. Resta saber quando não teremos mais a manutenção dessa “zumbificação” medíocre feito pela Fox nos últimos anos.
As referências utilizadas no artigo foram o site Dead Homer Society, um vídeo em inglês do canal Super Eyepatch Wolf e um vídeo em português do canal Fazendo Nerdice.
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