Qual a primeira animação totalmente feita por computação?

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O Brasil é um país tipicamente competitivo, em especial falando contra outros países. Pelé vs. Maradona, Irmãos Wright vs. Santos Dumont, enfim. Mas uma disputa pouco conhecida entre os brasileiros é a da animação brasileira, Cassiopéia, contra  a animação estadunidense, Toy Story. Contudo, para lhe contar essa história, eu preciso voltar para novembro de 1995, especificamente a época em que Toy Story chegava aos cinemas.

O filme feito pela Pixar Animation Studios em parceria com a Walt Disney Pictures foi um marco soberano no cinema norte-americano, recebia em especial o crédito de ser o primeiro longa-metragem integralmente feito em computação gráfica. O crédito não era atoa, afinal, o longa impressionava para 1995. No entanto, uma animação brasileira havia começado sua produção 3 anos antes, em 1992, mas só chegou aos cinemas apenas em fevereiro de 1996.

Parece simples, não? Uma veio antes e a outra depois, não há duvidas da pioneira. Só há um pequeno problema que atrapalha a vitória estadunidense: Toy Story utilizou um recurso conhecido como rotoscopia, que nada mais é do que um escaneamento digital, nesse caso de uma argila. Na contrapartida, Cassiopéia foi feito exclusivamente com computação gráfica, sem a utilização de escaneamento de imagens ou vetorização de modelos.

Porém, conforme o desconhecimento do grande público sobre o longa aponta, Cassiopéia vive a sombra da animação estadunidense. E, no fim das contas, não é atoa: seu desenvolvimento foi para lá de conturbado. O investimento inicial ocorreu por parte de Nello De Rossi, ator italiano que se mudou para o Brasil na década de 70 (e claro, um dos donos da NDR Filmes, produtora do longa), mas uma grande fatia do orçamento de Cassiopéia veio da então recém instaurada Lei do Audiovisual, que custeou o equivalente à R$700 mil (já que o valor captado ocorreu ainda antes da instauração do Plano Real, que veio a ocorrer em 1994), quase metade do orçamento do projeto (US$1,5 milhões). 

O projeto, apesar de feito no Brasil, foi enviado para os EUA para se transposto em película cinematográfica no laboratório DuArt, conforme afirma a matéria do portal Risca Faca. No meio disso tudo, CDs do projeto foram roubados, o que “atrasou tudo” de acordo com Patrícia De Rossi, filha de Nello e assistente de montagem da animação. Patrícia ainda afirma que a equipe acreditava em uma sabotagem intencional por parte da Disney, ainda que não haja provas.

“Foi proposital pra Disney dizer que lançou [um filme 100% digital] antes. Os americanos gostam de fazer primeiro. A gente acredita que foi uma sabotagem intencional.”

Não há nada que esteja ruim e não possa piorar, não é mesmo? Afinal, a janela de lançamento de Cassiopéia foi também uma das grandes responsáveis pelo apagamento do longa animado na história, visto que ocorreu justamente na época de Olimpíada. Patrícia comenta:

“É a segunda parte do drama. ‘Cassiopéia’ foi lançado pela PlayArte na época da Olimpíada. Queimou nossa primeira semana, porque o foco era totalmente a Olimpíada. O filme morre. E era um filme importante, o primeiro todo digitalizado no Brasil, e não deram a atenção necessária. A distribuição foi ruim e, por consequência, a repercussão foi morosa, triste.”

A equipe atribui a culpa de um lançamento tardio à distribuidora, PlayArte, fazendo com que Toy Story chegasse aos cinemas tempos antes mesmo tendo iniciado sua produção depois. O diretor, em entrevista na matéria citada acima, afirma que a polêmica não tem muita importância.

O que vale no mundo é o marketing e a data do lançamento nos cinemas”, afirma o diretor. “Contudo, nós saímos na frente. A Disney soube que estávamos fazendo um filme totalmente digital. Quando perceberam que estávamos na frente, correram para a Pixar, de Steve Jobs, que tinha projetos na área. Então a Disney jogou US$ 30 milhões no colo de Jobs para terminar antes que nós. Pessoalmente, fico feliz em fazer a Disney e Jobs terem corrido atrás de nós por algum tempo. Hoje perdemos de mil a zero. Mas essa disputa fez bem a ambas as partes.”

Se o projeto não engatou aqui, tampouco engatou lá fora. O principal motivo eram os direitos de merchandising, os quais Nello não abria mão de possuir. Apesar de ter tido uma sequência anunciada na época, Cassiopéia morreu junto com a NDR Filmes. “Foi nossa última produção. Mas papai viveu com o cinema dentro dele a vida toda”, afirmou Patrícia. Já o diretor, Clóvis Vieira, afirma que dorme feliz em saber que “um dia rivalizei com Steve Jobs e a Disney”. 

Cassiopéia é, no fim, mais um daqueles produtos que vive na sombra do suposto pioneirismo americano, ideia produzida no imaginário popular por meio de empresas multibilionárias como a Disney e a Pixar (na época, ainda separadas).

Mas e você, conhecia a história de Cassiopéia? Está do lado de quem nessa história? Comente!

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