‘Chega de Saudade’: 2 anos sem João Gilberto

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João Gilberto, popularmente chamado de “o pai da Bossa Nova”. Aliás, falar da história da música brasileira sem passar pela Bossa Nova é um tanto difícil, em especial pela simplicidade que é ironicamente cheia de elementos. Para muita gente, todos os elementos que caracterizam a Bossa Nova enquanto gênero musical se encontram em 1 música: “Chega de Saudade”, composta pelos ícones Vinícius de Moraes e Tom Jobim, primeiramente interpretada pela cantora Elizeth Cardoso em seu álbum “Canção do Amor Demais”, lançado em maio de 1958.

Lá, estava presente João Gilberto, que acompanhava Elizeth no violão. Aliás, não só acompanhava, como tentava ensinar a cantora como fazer o que ela sabia de melhor. Não muito tempo depois, João decidiu gravar Chega de Saudade, com muito custo por parte de Aloysio de Oliveira, diretor da gravadora Odeon. Quem diria que aquela gravação de João Gilberto se tornaria anos depois um marco não só da Bossa Nova, como também se tornaria um marco da nossa história. Relatos sobre a importância da canção na história de ícones e marcos musicais do Brasil são pra lá de comuns, como o relato abaixo de Chico Buarque, que encontramos na Revista do Instituto de Estudos Brasileiros:

 “Para todas as pessoas da minha geração, ‘Chega de Saudade’, o tema que iniciou a bossa nova, composto por Vinicius e Jobim e cantada por João Gilberto, foi uma epifania, uma grande revelação. Posso lembrar perfeitamente o momento em que a escutei pela primeira vez, aos 15 anos, mas afirmo que todos os músicos de idade parecida com a minha poderiam lhe contar onde, como e em que momento a descobriram. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo… Ela mudou nossas vidas […]. Considerávamos que era o que se devia fazer, o poder daquela música era tão forte que marcou nossos caminhos”

Não podemos dizer que João Gilberto inventou aquele jeito calmo, aquela tom do mesmo jeito que se fala, cantado, em especial falando da história da Bossa Nova, que apagou grandes gênios do imaginário popular, como Johnny Alf ou Nara Leão, exemplos de apagamento que ocorreram muito em virtude da figura indentitária do gênero, que excluía do imaginário aquele que não fosse homem, hétero, em especial branco. No entanto, João popularizou e exportou esse modelo mundo afora, em um momento social e político em que o Brasil se permitia encontrar novas identidades, com o Governo de Juscelino Kubitschek valorizando a ressignificação da identidade nacional.

Uma particularidade do pai da Bossa Nova era sua simplicidade altamente disciplinada. Se por um lado, João passava longe da psicodelia, da metalinguagem, da complexidade, suas performances eram altamente disciplinadas, chegando inclusive a virar piada por parte do público com seu perfeccionismo um tanto exagerado na visão de muitos. Dois dos exemplos mais famosos são um em que o cantor reclama do ar condicionado, afirmando que ele desafina os instrumentos. O outro exemplo ocorreu em um show ao lado de Caetano Veloso, onde João reclama do eco, foi vaiado. João cita que a vaia “pode ser bebida”, citando que é “vaia de bêbado”. Então, começa a cantarolar. “Vaia de bêbado não vale, vaia de bêbado não vale”.

Mas sua peculiaridade enquanto violonista e cantor era o atraso entre os versos tocados no violão e as letras cantadas, ao mesmo tempo em que conseguia condensar o ritmo do samba nas suas poucas cordas de violão, cantando no mesmo tom em que raramente conversava. Sua vida pessoal foi e é um mistério, o que pouco importa para o seu legado, que vem constantemente ganhando novos materiais após a sua morte, que completou 2 anos na última terça (06) (além de uma chegada gradual de seus álbuns nos serviços de streaming de música, como o Spotify, Deezer, Apple e YouTube Music, dentre outros). João Gilberto representa aquilo de mais rico que a nossa cultura produziu no século passado, ainda que em um movimento com suas particularidades, como uma história um tanto excludente e elitista com o imaginário popular, além de se abster politicamente, ao contrário do seu gênero de herança, MPB.

Mas o mais importante: nunca se é tarde para conhecer João.

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